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Como é Feito o Diagnóstico do TDAH
Você já se pegou perguntando se tem TDAH? Talvez porque esquece onde colocou as chaves, perde prazos ou sente que sua mente nunca para?
O TDAH sempre existiu, mas a forma como olhamos para ele mudou muito com o tempo. Antes, crianças inquietas ou distraídas eram apenas rotuladas como “não aprendem” ou “desobedientes”. Hoje, sabemos que o transtorno tem base neurológica e genética, afetando não só crianças, mas também muitos adultos que passaram a vida sem saber por que tudo parecia mais difícil para eles.
Mas afinal, como os profissionais sabem quem realmente tem TDAH? Portanto se essas dúvidas já passaram pela sua cabeça, leia até o final esse artigo. Sendo que vamos falar sobre os critérios de diagnóstico e os desafios enfrentados por quem passa a vida tentando entender por que o mundo parece exigir um funcionamento que simplesmente não vem de fábrica.
Como os Profissionais Diagnosticam o TDAH?
Diferente de muitas condições médicas que podem ser confirmadas por meio de exames laboratoriais, como um teste de sangue ou imagem, o diagnóstico do TDAH exige um olhar mais cuidadoso, clínico e, acima de tudo, humano. Não existe um marcador biológico específico que revele, com exatidão, a presença do transtorno. Por isso, identificar o TDAH requer sensibilidade, experiência e um processo de escuta qualificada por parte de profissionais especializados em saúde mental.
O diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é feito com base em critérios clínicos estabelecidos por manuais reconhecidos internacionalmente, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) da Associação Americana de Psiquiatria. Contudo, mais importante do que “encaixar sintomas” em uma lista, é compreender a história única de cada pessoa: seu modo de funcionar, seus desafios cotidianos, seus pontos fortes, suas vivências.
Geralmente, o processo inclui:
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Avaliação detalhada dos sintomas: O profissional (psiquiatra ou psicólogo clínico) irá investigar a frequência, intensidade e duração dos sintomas, além de entender em quais contextos eles aparecem — como escola, trabalho, vida familiar e social. Sintomas esporádicos ou reativos a situações pontuais não caracterizam TDAH. É preciso observar um padrão consistente e persistente ao longo do tempo.
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Histórico de vida e desenvolvimento: O TDAH não surge “do nada” na vida adulta. Ainda que muitas pessoas só recebam o diagnóstico depois de crescidas, os sinais costumam estar presentes desde a infância. Por isso, o profissional geralmente investiga o histórico escolar, as relações sociais desde os primeiros anos de vida e até mesmo relatos familiares sobre o comportamento da pessoa quando criança.
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Entrevistas com familiares e professores (no caso de crianças e adolescentes): A colaboração de quem convive de perto com a pessoa avaliada ajuda a construir uma visão mais ampla e precisa dos sintomas em diferentes contextos. Isso é especialmente útil para evitar diagnósticos precipitados ou distorcidos.
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Aplicação de instrumentos e escalas de avaliação: Em muitos casos, o profissional pode utilizar questionários padronizados, escalas comportamentais e protocolos clínicos que auxiliam na organização das informações e na tomada de decisão diagnóstica. Esses instrumentos não “dão o diagnóstico sozinhos”, mas funcionam como ferramentas complementares.
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Descartar outras causas ou condições associadas: É essencial garantir que os sintomas não estejam relacionados a outras questões, como ansiedade, depressão, dificuldades de aprendizagem, trauma, ou até fatores contextuais, como excesso de estímulos ou falta de estrutura familiar e escolar. Um diagnóstico ético e responsável leva em consideração toda a complexidade do ser humano.
O Processo exige Tempo…
Esse processo exige tempo, escuta ativa e compromisso com a singularidade de cada pessoa. Afinal, estamos falando de vidas, não de rótulos. O objetivo do diagnóstico não é enquadrar alguém, mas abrir portas para intervenções mais eficazes, compreensivas e libertadoras.
E vale lembrar: diagnóstico não é sentença. Pelo contrário, é muitas vezes o primeiro passo para entender melhor o próprio funcionamento, aliviar a culpa e dar início a um caminho de maior bem-estar e autoaceitação.
Por Que a Infância é Tão Importante no Diagnóstico?
O DSM-5, um dos principais manuais de diagnóstico, diz que para alguém ser diagnosticado com TDAH, os sintomas precisam ter começado na infância. Isso significa que não dá para “desenvolver” TDAH na vida adulta , ou devido a correria ou estresse do dia a dia, ele já estava lá desde cedo, só que nem sempre foi reconhecido.
Além disso, o TDAH é hereditário. As pesquisas indicam que cerca de 70 a 80% dos casos têm origem genética. Ou seja, se um dos pais tem TDAH, a chance de um filho também ter é bem alta. Se o seu filho foi diagnosticado com TDAH vale a pena investigar quem tem esses traços na família, provavelmente vão identificar com o pai ou a mãe e até mesmo pode ser alguns dos avós ou tios.
Por isso, na hora do diagnóstico, o profissional pode perguntar:
Como você era ou é na escola? Tinha dificuldade para prestar atenção? Perdida nas tarefas?
Você já foi chamado de “distraído”, “avoado” ou “agitado” desde pequeno?
Há alguém na sua família com sintomas parecidos, mesmo que nunca tenha sido diagnosticado?
Essas perguntas ajudam a diferenciar TDAH de outras condições, como ansiedade e depressão, que também podem afetar a atenção.
Vamos Falar Sobre Os Três Tipos de TDAH
TDAH Predominantemente Desatento
Vive no “mundo da lua” e perde detalhes importantes.
Esquece compromissos e prazos com facilidade.
Dificuldade para manter o foco em conversas ou leituras.
TDAH Predominantemente Hiperativo-Impulsivo
Agitação constante, mexendo mãos e pés o tempo todo.
Fala sem parar e tem dificuldade em esperar sua vez.
Toma decisões impulsivas sem pensar nas consequências.
TDAH Tipo Combinado
Apresenta características dos dois tipos anteriores.
O Conhecimento é Libertador
Ao longo das décadas, milhares de pessoas viveram com o TDAH sem sequer saber que esse transtorno existia.
Foram anos, às vezes uma vida inteira, ouvindo que eram distraídas, bagunceiras, preguiçosas, “sem força de vontade” ou simplesmente “desorganizadas”. Sendo que muitas cresceram com a sensação constante de inadequação, tentando se encaixar em modelos de produtividade, atenção e comportamento que pareciam inalcançáveis. E o mais doloroso: achando que o problema estava apenas nelas.
Mas quando o conhecimento chega, ele muda tudo
Descobrir que há uma explicação legítima, científica e validada para os desafios enfrentados ao longo da vida não significa criar desculpas, significa finalmente compreender o que estava além do controle pessoal. Compreender o TDAH é como acender uma luz num espaço que, por muito tempo, foi iluminado apenas por julgamentos e culpas.
O diagnóstico, nesse contexto, não é um rótulo que limita. Muito pelo contrário ele é uma chave que abre possibilidades. Por isso ele oferece um novo olhar sobre si mesmo, mais compassivo, mais coerente com a realidade interna, mais alinhado com o que realmente se vive. Sendo assim uma ferramenta de autoconhecimento que permite ressignificar experiências, reconstruir a autoestima e estabelecer estratégias reais para lidar com os desafios diários.
Se você se reconhece em padrões como dificuldade em manter o foco, esquecimento frequente, desorganização, impulsividade ou sensação constante de estar “sempre atrasado”, saiba que isso não é sinal de fracasso. Portanto esses podem ser, sim, traços do TDAH e buscar compreender isso é um ato de coragem, de cuidado e de responsabilidade consigo mesmo.
Ao Longo da Vida
É comum que, ao longo da vida, esses sintomas sejam confundidos com preguiça, desinteresse ou até desleixo. Por isso, receber orientação adequada é tão importante. Somente um profissional capacitado psicólogo ou psiquiatra, pode avaliar com sensibilidade e conhecimento se há, de fato, um transtorno, e a partir disso, indicar os caminhos mais adequados para um acompanhamento eficaz.
A partir do momento em que você entende como funciona o seu cérebro, começa também a desenvolver ferramentas para viver com mais leveza, produtividade e equilíbrio emocional. portanto o tratamento, quando bem conduzido, não apaga quem você é ele te ajuda a funcionar de um jeito que respeite sua singularidade, e não te force a caber em moldes que nunca foram seus.
Buscar esse conhecimento é, acima de tudo, um ato de libertação. É permitir-se sair do ciclo de culpa e entrar num processo de reconexão consigo mesmo. Por isso, como em todo processo de autoconhecimento, esse passo pode, sim, ser o ponto de virada que muda o rumo da sua vida.
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