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Como a Criança com TEA Vê o Mundo: Um Olhar que Pede Compreensão
Você já tentou enxergar o mundo pelos olhos de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Já imaginou como seria viver em um universo onde os sons são mais intensos, os toques mais desconfortáveis, e as palavras às vezes perdem o sentido?
Imagine-se em um país onde todos falam uma língua que você não domina totalmente, onde os gestos sociais parecem enigmáticos, e onde cada mudança na rotina é um terremoto emocional. É mais ou menos assim que muitas crianças com TEA se sentem.
Nesse este artigo, vamos mergulhar nesse universo tão singular. Primeiro, vamos compreender como uma criança com autismo percebe o mundo ao seu redor. Em seguida, exploraremos quais desafios ela enfrenta no dia a dia. E, o mais importante, veremos como nós adultos, pais, professores e terapeutas podemos ajudá-la a viver com mais segurança, dignidade e acolhimento.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. O termo “espectro” é usado justamente porque há uma ampla variação na intensidade e na forma como os sintomas se manifestam.
Algumas crianças são mais verbais, outras não falam. Algumas são extremamente sensíveis a sons e luzes, enquanto outras não demonstram desconforto. Há quem goste de abraços e há quem evite qualquer toque. E tudo isso está dentro do espectro.
Importância do olhar empático:
Mais do que um diagnóstico, o TEA é uma forma única de estar no mundo. E compreender isso é o primeiro passo para romper com o preconceito e construir relações mais saudáveis e respeitosas.
Sintomas, Causas e Características: Como o Mundo é Visto por uma Criança com TEA
Para muitas crianças com TEA, o mundo pode ser um lugar caótico, barulhento e imprevisível. Vamos entender por quê:
1. Processamento sensorial alterado
Crianças com TEA muitas vezes têm hipersensibilidade ou hipossensibilidade aos estímulos sensoriais:
Estímulo | Como pode ser percebido |
---|---|
Sons | Como gritos, ruídos altos ou ensurdecedores |
Luzes | Fortes, piscando rápido, desconfortáveis |
Toques | Invasivos ou até dolorosos |
Cheiros e sabores | Intensificados ou extremamente desagradáveis |
2. Dificuldades de comunicação
Algumas crianças, por exemplo, não falam; outras, por sua vez, apresentam fala ecolálica ou seja, repetem palavras ou frases. Além disso, muitas delas têm dificuldade para compreender piadas, sarcasmos ou expressões em linguagem figurada, o que pode gerar confusões nas interações sociais. Por isso, é comum que utilizem outras formas de se comunicar: desenhos, gestos, dispositivos eletrônicos ou, até mesmo, determinados comportamentos que expressam aquilo que ainda não conseguem dizer com palavras.Algumas crianças não falam, outras têm fala ecolálica (repetem palavras).
3. Desafios na interação social
Em muitos casos, a criança com TEA apresenta dificuldade em entender regras sociais implícitas como, por exemplo, esperar sua vez de falar durante uma conversa. Além disso, pode demonstrar preferência por brincar sozinha ou de maneiras diferentes das habituais, o que muitas vezes é mal interpretado. É importante lembrar, no entanto, que a falta de contato visual não indica desinteresse. Na verdade, ela costuma refletir desconforto, sobrecarga sensorial ou simplesmente uma outra forma de se conectar com o mundo.Dificuldade em entender regras sociais implícitas (como esperar a vez de falar).
4. Rigidez de rotinas
Mudanças súbitas, por exemplo, podem provocar crises intensas, especialmente quando a criança não está preparada para lidar com o imprevisto. Por outro lado, a previsibilidade costuma oferecer uma sensação de segurança e controle sobre o ambiente. Além disso, atividades repetitivas como alinhar objetos ou repetir movimentos, muitas vezes funcionam como estratégias naturais de autorregulação emocional, ajudando a criança a se acalmar diante de situações estressantes.
Consequências e Impactos de um Mundo Não Preparado
Infelizmente, muitas vezes o mundo não está pronto para acolher a forma como a criança com TEA percebe e reage ao ambiente. E isso pode gerar impactos emocionais profundos:
1. Crises de sobrecarga
Quando há estímulo demais (sons, cheiros, toques), o corpo e o cérebro da criança entram em estado de alerta. A resposta pode vir em forma de choro, gritos, fuga ou comportamento agressivo.
2. Exclusão social
Crianças com TEA são frequentemente mal compreendidas e excluídas de atividades escolares e sociais. Isso contribui para baixa autoestima e retraimento.
3. Transtornos associados
nsiedade, depressão, fobias sociais e distúrbios do sono são comuns em crianças que não recebem apoio adequado.
4. Sofrimento da família
Pais se sentem sobrecarregados, culpados ou sem saber como agir. Irmãos podem se sentir negligenciados ou confusos.
Pesquisa científica: Um estudo publicado na revista Autism Research (2021) mostrou que intervenções baseadas na compreensão sensorial e emocional do TEA diminuem em até 40% os episódios de crise comportamental. Isso mostra o quanto o acolhimento é transformador.
Estratégias e Dicas Práticas: Como Ajudar a Criança com TEA a se Sentir Compreendida
A seguir, compartilho orientações utilizadas em consultório adaptadas para crianças autistas:
1. Acolha, mesmo sem entender
Ao invés de corrigir, conecte-se.
Evite frases como “não é nada demais” ou “isso não é motivo para chorar”.
Diga: “Eu sei que está difícil agora. Vamos respirar juntos?”
2. Adapte o ambiente
Luz indireta, sons controlados, espaços tranquilos ajudam a evitar sobrecarga sensorial.
Crie um “cantinho seguro” onde a criança possa se acalmar com objetos que ela goste.
3. Use linguagem visual
Rotinas visuais (com imagens) ajudam na previsibilidade.
Histórias sociais em quadrinhos ajudam a compreender situações sociais.
4. Valide os sentimentos
Mesmo que o motivo da crise pareça pequeno para você, para a criança ele é real.
Nomeie as emoções: “Você está frustrado porque tiraram seu brinquedo, né?”
5. Estimule a comunicação da forma que for possível
Pode ser por desenhos, gestos, aplicativos ou sons.
A comunicação é uma ponte, não importa o formato.
6. Crie rotinas claras, mas com flexibilidade
Avise com antecedência sobre mudanças.
Use contagem regressiva ou timers visuais.
7. Seja o modelo de regulação emocional
Sua calma ajuda a criança a se acalmar.
Se você se desorganiza, respire fundo e retome o controle. A criança sente sua energia.
Reflexão Final: Um Mundo Visto com Outros Olhos
Embora muitas pessoas ainda acreditem que uma criança com TEA esteja “presa em seu próprio mundo”, na realidade, ela está exatamente no mesmo mundo que o nosso. No entanto, ela tenta compreendê-lo do seu jeito, no seu tempo e com os recursos que tem. Além disso, essa forma particular de ver e sentir é, frequentemente, mais sensível, mais sincera e mais pura do que conseguimos perceber especialmente quando olhamos apenas pela nossa perspectiva. Por isso, é fundamental ampliar o olhar e exercitar a empatia.
Como psicólogos, educadores, pais ou apenas como seres humanos, temos a responsabilidade de fazer uma pergunta essencial: será que o problema está na criança que vê o mundo de forma diferente, ou no mundo que ainda não aprendeu a vê-la como ela é?
Se conseguirmos mudar o olhar, abrimos caminhos para o respeito, o vínculo e a autonomia.
Vamos Ampliar Esse Olhar?
E você? Já conviveu com alguma criança com TEA? Como foi essa experiência para você? Depois de ler este artigo, o que mudou no seu olhar?
Agora que você compreende um pouco mais sobre o universo sensível e singular dessas crianças, que tal dar o próximo passo e compartilhar sua vivência? Seja você pai, mãe, cuidador, professor ou amigo, a sua história por mais simples que pareça pode, sim, acolher e inspirar outras pessoas que, assim como você, estão passando pelo mesmo caminho. Ao dividir sua experiência, você fortalece uma rede de empatia e compreensão que faz toda a diferença.
Além disso, ao deixar seu comentário aqui embaixo, você contribui para ampliar a empatia e o respeito nas nossas relações. Compartilhe este conteúdo com quem também precisa entender melhor, afinal juntos podemos construir um mundo mais consciente, onde todos se sintam vistos, ouvidos e verdadeiramente respeitados.